A Polícia Civil do Paraná (PCPR) concluiu as investigações que apuravam a explosão que atingiu silos de secagem de grãos em 26 de julho de 2023, em Palotina, no Oeste do Estado. Três pessoas foram indiciadas por homicídio culposo e lesão corporal culposa. O acidente causou a morte de dez pessoas e deixou outras dez feridas.
A perícia realizada pela Polícia Científica do Paraná concluiu que a explosão foi causada por excesso de poeira no ar em conjunto com faíscas geradas pelo contato de ferramentas metálicas com o piso de concreto durante a remoção de grãos de milho derramados.
Ao longo do inquérito policial foram realizadas mais de 50 oitivas, análises de documentos e imagens, levantamento dos danos, coleta de vestígios e análise das possíveis causas.
De acordo com o delegado da PCPR Rodrigo Baptista Santos, durante a investigação apurou-se que era de conhecimento geral que a poeira poderia causar explosão, além disso, buscou-se identificar os responsáveis por cada setor e como as condutas contribuíram para a ocorrência.
“Com isso, foi concluído que os responsáveis seriam o analista operacional, o gerente geral da unidade e o gerente de medicina e segurança do trabalho. O primeiro era responsável direto sobre as vítimas, que por diversas vezes deixou de exigir e cumprir normas previstas no Procedimento Operacional Padrão e nas normas trabalhistas”, afirma o delegado.
Segundo Baptista, os outros dois indiciados também estavam cientes das necessidades de atualização e manutenção e os possíveis riscos de explosões. Em fevereiro de 2023, foi emitido um relatório apontando diversas falhas e ineficiência do sistema de desempoeiramento dos túneis.
“O gerente geral da unidade resolveu que faria apenas colocações de peças com funcionários próprios, sem qualificação para isso. Ele não abriu ordem de serviço para manutenção agir e contratar empresa especializada. Em resumo, não deu a importância necessária aos graves problemas apresentados, sendo fator decisivo para a ocorrência do fato, sua negligência. Enquanto o gerente de medicina e segurança do trabalho, sabendo dos riscos, não acompanhou para verificar se a manutenção seria feita. Sendo assim, agiu de forma negligente”, destaca o delegado.
PERÍCIA – O perito criminal Lennon Ruhnke explica que uma explosão é causada por uma súbita liberação de energia. O acúmulo de poeira devido ao derramamento de grãos, a geração de faíscas e a elevada temperatura dos grãos contribuem para um cenário propício a uma explosão.
“Considerando a indústria em análise, durante o recebimento, processamento e expedição dos grãos há constantemente uma produção de poeira orgânica que, em determinadas condições, se tornam explosivas. Neste caso, a geração de calor através do atrito ou impacto entre matérias pode ser o suficiente para provocar ignição. No local do acidente foram encontradas ferramentas metálicas utilizadas na remoção de grãos. Vestígios encontrados sugerem a hipótese de produção de faíscas por impacto contra o solo de concreto do túnel”, aponta Ruhnke.
Para a realização da perícia foram aplicadas técnicas especializadas para a coleta de informações relevantes ao caso. Os peritos realizaram entrevistas com os funcionários da empresa para obter detalhes sobre os processos e serviços realizados, contribuindo para a compreensão do ambiente operacional, além de reuniões com as equipes de engenharia para entender sobre os equipamentos utilizados e os cronogramas de manutenção.
Ruhnke completa que o levantamento dos danos incluiu várias incursões nos túneis para avaliar o impacto do ocorrido, a coleta de vestígios e a análise das possíveis causas.
“Tecnologias como fotografia, uso de veículo aéreo não tripulado (VANTs) e escaneamento 3D foram empregadas para auxiliar na documentação e análise dos fatos. A análise dos danos sugere que o epicentro da explosão se localiza entre as fachadas sul dos armazéns 3 e 4 e a casa de máquina 3. A conclusão é baseada no nível de destruição dos locais”, conclui.