
Trinta e cinco longos dias de um silêncio que dói, que angustia, que paralisa. São esses os sentimentos que desesperam as famílias de Alencar Gonçalves de Souza, de 36 anos e morador de Icaraíma, e do trio paulista Robishley Hirnani de Oliveira, de 53 anos, Rafael Juliano Marascalchi, de 43 anos, e Diego Henrique Afonso, de 39 anos, desaparecidos desde 5 de agosto em Icaraíma.
Nesta segunda-feira (9), familiares divulgaram uma carta aberta à população e às autoridades, em que denunciam o sofrimento e cobram justiça. O documento, assinado pelos parentes das vítimas – com exceção da família de Alencar -, afirma que os verdadeiros culpados “tentam se passar por inocentes, mesmo sabendo da gravidade do que cometeram”, em resposta ao depoimento do advogado dos suspeitos, divulgado em matéria publicada no OBemdito.
Alegando ainda, na carta aberta, que o “advogado quer silenciar quem perdeu um ente querido, enquanto a população, amedrontada, afirma ter ouvido tiros naquela dia. São fatos que não podem ser simplesmente apagados ou negados. Agora, tentam transformar a verdade em mentira, alegando que nada é verídico.”

“Não pedimos nada além da verdade. Não pedimos nada além de justiça”, diz o texto. Em entrevista, Meiriane Marascalchi, de 40 anos, esposa de Rafael Juliano Marascalchi, um dos desaparecidos, reforçou o apelo: “Queremos ao menos a chance de dar um velório digno àqueles que foram arrancados de nós.”
A carta cita ainda um suposto medo que estaria pairando sobre Icaraíma, onde moradores teriam relatado tiros no dia do desaparecimento. “A cidade inteira sente o peso do medo, porque dizem que os culpados são perigosos. E, nós perguntamos: até quando a Justiça vai permitir que quatro famílias sofram desse jeito?”, questionam os familiares.

A defesa dos Buscariollo
Do outro lado, o advogado Renan Nogueira Farah, que defende Antônio Buscariollo, de 62 anos, e seu filho Paulo Ricardo, de 22 anos, ambos foragidos e com prisão preventiva decretada, sustenta que seus clientes não estavam no local apontado pela polícia como cenário do crime. Segundo ele, extratos telefônicos poderão comprovar a versão.
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Farah justificou a fuga da família como uma forma de autoproteção após ameaças. Em entrevista, chegou a afirmar que os três cobradores podem estar vivos: “É preciso entender a vida que eles levavam, até por conta do trabalho que exerciam.”
Polícia Civil e as críticas
Em relação as críticas sobre a falta de informações, o delegado chefe da 7ª Subdivisão Policial de Umuarama Gabriel Menezes, disse que se trata de uma reação natural de quem perdeu pessoas próximas. “É compreensível essa angústia por parte dos familiares”.
Também ele destacou que como os trabalhos de investigação são sigilosos e que não é possível repassar informações às famílias, então, é compreensível que eles fiquem com a impressão de que nada está sendo feito.
“Contudo, tem muito trabalho em andamento. Infelizmente, não podemos revelar os trabalhos para proporcionar esse conforto aos familiares, sob pena de prejudicar as investigações. No momento oportuno, eles vão compreender que esse sigilo foi necessário”, concluiu o delegado.
O caso
A investigação da Polícia Civil relaciona o caso a uma suposta dívida envolvendo a família Buscariollo. Pai e filho teriam adquirido terras de Alencar e não pago pelo negócio, o que motivou a vinda do trio paulista para ajudar a cobrar a dívida. Desde então, todos desapareceram.
A polícia mantém as investigações sob sigilo. A principal linha de apuração é homicídio, mas outras hipóteses não estão descartadas. Informações podem ser repassadas, de forma anônima, pelo telefone 181.
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CARTA ABERTA À POPULAÇÃO E À JUSTIÇA
Já são 35 dias de dor, angústia e silêncio. Trinta e cinco dias em que quatro homens – maridos, pais, filhos, irmãos – desapareceram em Vila Rica, Icaraima/PR, e até agora nada foi esclarecido. As famílias estão aflitas, vivendo entre denúncias aleatórias e falsas informações, enquanto os verdadeiros culpados tentam se passar por inocentes, mesmo sabendo da gravidade do que cometeram. Foram quatro vidas arrancadas, quatro histórias interrompidas sem piedade. É revoltante ver que, além de toda dor, ainda há quem tente calar as famílias enlutadas. Um advogado quer silenciar quem perdeu um ente querido, enquanto a população, amedrontada, afirma ter ouvido tiros naquela dia. São fatos que não podem ser simplesmente apagados ou negados. Agora, tentam transformar a verdade em mentira, alegando que nada é verídico. Mas nós sabemos a realidade. A cidade inteira sente o peso do medo, porque dizem que os culpados são perigosos. E nós perguntamos: até quando a Justiça vai permitir que quatro famílias sofram desse jeito? Nós não pedimos nada além da verdade. Não pedimos nada além de justiça. Queremos ao menos ter a chance de dar um velório digno àqueles que foram arrancados de nós. Pedimos às autoridades que não fechem os olhos. Pedimos à população que não se cale. Quem cala diante da injustiça se torna cúmplice dela. Por nossos maridos, por nossos pais, por nossos filhos. Por todos nós que ficamos com a dor e a saudade.
Famílias dos desaparecidos em Icaraima – Vila Rica/PR
Fonte: O Bemdito