
As famílias dos cobradores desaparecidos em Icaraíma (noroeste do Paraná) aumentaram para R$ 100 mil o valor das recompensas para quem fornecer informações sobre o paradeiro deles — vivos ou mortos — e também dos suspeitos do caso. A mobilização intensificada ocorre 27 dias após o desaparecimento dos homens, em 5 de agosto último.
Segundo a esposa de um dos desaparecidos, a página no Instagram criada pelos familiares e amigos já passou de 200 mil visualizações em pouco mais de uma semana. Ela disse que são pelo menos 10 pessoas, todas voluntárias, atendendo as mensagens que chegam a todo momento. Uma das mensagens seria da mulher de Paulo Ricardo Buscariollo, solicitando que a foto dela fosse excluída da publicação, uma vez que não é procurada pela polícia.
“Estamos nos sentindo esquecidos pela polícia. Não recebemos informações de nada. Nós filtramos o que chega e encaminhamos para o delegado, mas não há resposta. Não sabemos nada. Nossa dor só aumenta. Não temos direito sequer de viver o luto, porque não temos a comprovação de que (nossos maridos) estão mortos”, disse a esposa.


Inicialmente, os familiares lançaram uma recompensa de R$ 50 mil por informações sobre os cobradores e mais R$ 30 mil por dados que levassem aos suspeitos — o aposentado Antônio “Tonhão” Buscariollo, 66 anos, e seu filho Paulo Ricardo, 22 anos. Ambos estão com prisão preventiva decretada e seguem foragidos.
“Nos unimos, vimos nossas contas e decidimos aumentar a recompensa a respeito dos bandidos para R$ 50 mil. Não vamos parar. Vamos seguir mexendo com essa situação até que os meninos sejam encontrados e os suspeitos paguem pelo que fizeram”, relatou a esposa. Ela disse que ainda acredita que os cobradores estejam vivos, mas que sabe que essa chance é mínima.
Robishley Hirnani de Oliveira, 53 anos, Rafael Juliano Marascauti, 43 anos, e Diego Henrique Afonso, 39 anos—saíram do interior paulista (São José do Rio Preto e Olímpia) rumo a Icaraíma, no Paraná, para cobrar uma dívida estimada que inicialmente foi cogitada em R$ 1 milhão. Dias depois, a polícia atualizou a quantia para R$ 250 mil.
Os três cobradores foram contratados por Alencar Gonçalves de Souza, morador de Icaraíma e credor da dívida. Alencar, que também encontra-se desaparecido, estaria há meses tentando receber o valor da terra que tinha vendido aos Buscariollo, sem sucesso. Ele foi ao encontro de Antonio e Paulo Ricardo junto com os três paulistas.


A investigação segue em curso com a participação da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, além do Grupo Tigre, equipe especializada. As buscas incluem áreas rurais, rios, bunkers e levantamentos por câmeras de segurança. Apesar das ações intensas, nenhuma pista concreta foi divulgada até o momento.
As famílias reafirmam que o sigilo das informações é garantido e solicitam à população que repasse qualquer dado relevante também aos canais oficiais da polícia. A recompensa de R$ 100 mil será entregue mediante comprovação consistente, com o objetivo de incentivar a colaboração e a busca por justiça.
Delegado responde sobre críticas e recompensas
OBemdito questionou o delegado que preside as investigações sobre o caso, Gabriel Menezes, sobre como ele vê a atitude das famílias em fazer uma investigação paralela a respeito dos desaparecimentos e oferecer recompensas por informações. Também perguntou como ele recebe as crítica dos familiares, cada vez mais fortes.
“Sobre a oferta de indenização, não temos como comentar. Trata-se de iniciativa exclusiva da família, sobre a qual não temos nenhuma ingerência. Em relação às críticas sobre a falta de informações, vejo que se trata de uma reação natural de quem perdeu pessoas próximas. É compreensível essa angústia por parte dos familiares”.
Gabriel Menezes afirmou que, como os trabalhos de investigação são sigilosos, não é possível repassar informações à família.
“É compreensível que eles fiquem com a impressão de que nada está sendo feito. Contudo, tem muito trabalho em andamento. Infelizmente, não podemos revelar os trabalhos para proporcionar esse conforto aos familiares, sob pena de prejudicar as investigações. No momento oportuno, eles (familiares das vítimas) vão compreender que esse sigilo foi necessário”.
O Bemdito